Por Pérola de Souza*
‘Retardada’, ‘lesada’, ‘aleijada’, ‘louca’, ‘doida’, ‘cegueta’, ‘perneta’, ‘pata-cega’, ‘da lua’, são muitos os xingamentos sociais que se referem às pessoas com alguma deficiência física, intelectual ou sensorial. Na nossa sociedade, é considerada uma ofensa, muitas vezes grave, comparar uma pessoa sem deficiência com indivíduos que possuem algum tipo de deficiência. É por isso que até hoje esses termos são utilizados no cotidiano de forma naturalizada.
O Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, que marca o dia 21 de setembro, é um símbolo de combate a essas discriminações. A data foi instituída pela Lei nº 11.133 de 2005, mas já era um marco do movimento PcD desde 1982, por iniciativa do militante Cândido Pinto de Melo, um dos fundadores do Movimento pelos Direitos das Pessoas Deficientes. O Dia Nacional de Luta representa as reinvindicações em prol da cidadania, inclusão e participação plena na sociedade e foi escolhida em alusão à proximidade com o início da Primavera (23 de setembro), pela coincidência com o Dia da Árvore, a fim de que o renascer da flora representasse, também, a renovação da luta das pessoas com deficiência por uma sociedade sem preconceito.
Nesse sentido, da mesma forma que o machismo atinge as mulheres e o racismo as pessoas negras, as pessoas com deficiência são alvo de um preconceito próprio, denominado capacitismo, ainda pouco conhecido pela sociedade. De acordo com a pesquisadora Fiona Campbell: “o capacitismo (ableism), define-se como: “uma rede de crenças, processos e práticas que produz um tipo particular de compreensão de si e do corpo (padrão corporal), projetando um padrão típico da espécie e, portanto, essencial e totalmente humano. A deficiência para o capacitista é um estado diminuído do ser humano”. Em síntese, pode-se dizer que o capacitismo é a concepção presente na sociedade que percebe as pessoas com deficiência como não iguais, menos aptas ou não capazes para gerir as próprias vidas
É essa opressão que estigmatiza as pessoas com deficiência e transforma características ligadas à deficiência em aspectos negativos que têm a intenção de ofender e diminuir. E esse tipo de preconceito só é desconstruído com muito brado e muita luta. Neste dia 21 de setembro, estamos unidos, em espírito e nas redes, pelo marco da renovação de nossa luta pela inclusão, hasteando a bandeira anticapacitista em prol de um de uma sociedade em que não sejamos inumanas ou inumanos nem super-mulheres ou super-homens, mas plenamente cidadãos e cidadãs.
*Pérola de Souza é mulher cega, jornalista, mestranda em comunicação pela UFPA e integrante do Movimento Brasileiro de Mulheres Cegas e Baixa-visão (MBMC).