Para o ministro de Bolsonaro, se aposentar é um privilégio
No seu discurso na Comissão Especial da Câmara dos Deputados que discute a reforma da Previdência, na tarde da última quarta-feira (15), o ministro da Economia, Paulo Guedes, abusou dos impropérios contra os servidores públicos e o atual regime de Previdência Social. Segundo o ministro, a “velha” Previdência é uma “fábrica de privilégios” e uma “máquina perversa de transferência de renda”.
O que o senhor Ministro chama de máquina de privilégios é um regime conquistado a partir da luta dos trabalhadores e servidores ao longo das últimas décadas, baseado na solidariedade e universalidade, e que tem sido o maior programa social do país, para mais de 100 milhões de brasileiros.
Na audiência, o ministro de Bolsonaro atacou os servidores da casa. “São os funcionários do Legislativo que ganham 20 vezes mais do que o trabalhador comum, não são os deputados”, numa óbvia tentativa, mentirosa, de desqualificar os servidores.
Os ataques de Guedes já não surpreendem. Com exceção dos militares, todos os trabalhadores, do campo e da cidade, além dos servidores públicos de todas as esferas, municipais, estaduais e federais, serão atingidos pela reforma e terão de trabalhar mais para ganhar menos na aposentadoria.
Para acabar com as aposentadorias e impor um sistema de capitalização, o projeto de reforma do governo falseia um deficit que não existe. No regime de capitalização, os trabalhadores que façam uma poupança compulsória, individual, sem a participação de empregadores ou governo. Nessa ofensiva publicitária, o governo passou a substituir o termo “capitalização” por “garantia de poupança futura”.
Mas sabemos que o sonho de consumo do Paulo Guedes é entregar todo o sistema previdenciário para os bancos. Por isso, o ministro insiste na mentira de que a reforma vai recuperar a capacidade de o governo investir em outras áreas. Guedes falou diversas vezes que o país está indo para um “buraco fiscal”, outra mentira fabricada pelo governo.
Não há deficit. O rombo das contas públicas não está na Previdência, mas na dívida pública que garante aos bancos lucros da ordem dos trilhões de reais. O maior recurso do orçamento da União é gasto com juros e amortização da dívida. São 40,66% ou R$ 1,065 trilhão retirado dos orçamentos federal, estadual e municipal.
Essa política rentista do governo promove cortes de gastos em todas as áreas, como saúde, educação, segurança, justiça, ciência e tecnologia.
A Previdência é alvo dos ataques porque é onde os recursos ainda existem. São 24,48% do orçamento da União, pagos por cem milhões de pessoas no atual regime de repartição entre ativos e aposentados.
É esse montante de mais de R$ 500 bilhões por ano que o governo ultraliberal de Guedes e Bolsonaro quer transferir para os bancos ao sabor das exigências do sistema financeiro internacional.
Discurso perverso
O problema no discurso do ministro é a perversidade. Ele esconde que mais de R$ 1 trilhão é destinado para a rolagem da dívida por meio da emissão de títulos bancários, enriquecendo os grandes empresários de quem é representante.
Quem deve pagar essa conta? Os bancos ou nós, trabalhadores e servidores?